
@ TAnOTaTU
2025-05-21 11:02:53
**Uma Resposta Marxista à Questão das Forças Armadas na América Latina e no Brasil**
A análise marxista sobre a existência das Forças Armadas na América Latina e no Brasil parte de uma compreensão materialista histórica do Estado e de suas instituições. Para o marxismo, o Estado não é uma entidade neutra, mas um **aparelho de dominação de classe**, cuja função primordial é garantir a reprodução das relações de produção capitalistas e a hegemonia da burguesia. As Forças Armadas, como braço coercitivo do Estado, historicamente serviram a interesses de elites econômicas, oligarquias e, em muitos casos, ao imperialismo estrangeiro.
### **1. O Papel das Forças Armadas no Capitalismo Periférico**
Na América Latina, as Forças Armadas foram instrumentais na consolidação de regimes autoritários, golpes de Estado (como no Brasil em 1964, no Chile em 1973 e na Argentina em 1976) e na repressão a movimentos populares, sindicais e indígenas. Sua atuação frequentemente está vinculada à **manutenção da ordem burguesa**, à proteção de propriedades privadas (incluindo latifúndios e recursos naturais) e à subordinação aos interesses geopolíticos de potências imperialistas, como os EUA, especialmente durante a Guerra Fria.
Sob o capitalismo periférico e dependente, típico da região, as Forças Armadas também cumprem um papel **contrainsurgente**, atuando para desarticular qualquer projeto que ameace o status quo, seja uma revolução socialista, uma reforma agrária radical ou a nacionalização de recursos estratégicos.
---
### **2. A Necessidade de "Destruir o Estado Burguês"**
Para Marx, Engels e Lênin, a revolução proletária exige não apenas a tomada do poder político, mas a **destruição do aparato estatal burguês** (incluindo suas Forças Armadas, polícia e burocracia) e sua substituição por um **Estado operário**, baseado em organismos de poder popular, como sovietes ou conselhos comunais. Nesse sentido, as Forças Armadas tradicionais, enquanto instituição a serviço da burguesia, não podem ser reformadas: devem ser desmanteladas e substituídas por uma **nova forma de organização militar**, vinculada às massas e subordinada a um projeto revolucionário.
A ideia não é simplesmente "acabar com as Forças Armadas" de forma abstrata, mas superar sua estrutura hierárquica, elitista e antipopular, criando um **exército popular** ou milícias armadas controladas democraticamente pela classe trabalhadora. Essa foi, por exemplo, a proposta da Comuna de Paris (1871) e das milícias revolucionárias na Revolução Russa de 1917.
---
### **3. O Caso Brasileiro e a Dependência Imperialista**
No Brasil, as Forças Armadas têm um histórico de intervenção política, seja através de ditaduras (como a de 1964-1985), seja através de seu alinhamento com setores reacionários da sociedade. Ainda hoje, mantêm vínculos com o imperialismo estadunidense (como em acordos militares e treinamentos) e atuam como guardiãs de um projeto nacional subordinado ao capital internacional.
No entanto, a simples abolição das Forças Armadas sem a construção de um poder popular alternativo seria inviável e perigosa, pois:
- **O imperialismo não desapareceria**: Países centrais poderiam intervir militarmente para garantir seus interesses (como fizeram no Haiti, na Venezuela ou na Bolívia).
- **A violência de classe persistiria**: Milícias privadas, polícias militarizadas e grupos paramilitares (como no caso colombiano) ocupariam o vácuo de poder, aprofundando a opressão.
---
### **4. A Estratégia Revolucionária: Desmilitarização e Poder Popular**
A perspectiva marxista não é pacifista ou antimilitarista em abstrato, mas defende que a classe trabalhadora deve **organizar sua própria força armada** para defender a revolução e combater a contra-revolução. A destruição das Forças Armadas burguesas só será possível através de um processo revolucionário que:
1. **Desmonte a estrutura de comando burguesa** e seus vínculos com o imperialismo.
2. **Crie instituições militares democráticas**, integradas ao povo e voltadas para a defesa territorial e social.
3. **Promova a desmilitarização da sociedade**, substituindo a lógica da repressão pela da emancipação.
Na América Latina, exemplos como o Exército Zapatista (México) ou as milícias populares na Revolução Cubana ilustram formas alternativas de organização militar vinculadas a projetos emancipatórios.
---
### **5. Conclusão: Não à Abolição Imediata, Sim à Transformação Revolucionária**
Abolir as Forças Armadas sem transformar as relações de produção e o Estado seria uma medida inconsequente. Para o marxismo, a questão central não é "acabar" com as Forças Armadas em abstrato, mas **destruir o Estado burguês** e seu aparato repressivo, substituindo-o por um poder popular que garanta a autodefesa das massas e a soberania nacional contra o imperialismo.
Isso exige uma luta de classes radical, articulada internacionalmente, que una a desmilitarização à construção do socialismo. Enquanto o capitalismo existir, as Forças Armadas seguirão sendo um instrumento de opressão — mas sua superação só será possível através da organização revolucionária da classe trabalhadora.
**"O proletariado não precisa de um exército permanente; precisa armar-se a si mesmo."**
— Friedrich Engels, *Sobre a Autoridade* (1872).